Na língua portuguesa encontra-se o vocábulo “teologia” como sendo “a ciência ou estudo que se dedica a Deus, às suas características, às suas particularidades e às suas relações estabelecidas com o Universo e com o homem”. É tida como sinônimo de doutrina que significa a “reunião dos fundamentos e/ou ideias que, por serem essenciais, devem ser ensinadas”. Embora as aplicações possam ser semelhantes, teologia tem um sentido absolutamente contrário ao que se aplica às doutrinas religiosas, tendo sido objeto de interesse de quase todos os sábios do mundo, em todos os tempos.
 
De acordo com a história, o primeiro judeu a apresentar uma teologia judaica provavelmente foi o grande filósofo Filo de Alexandria (Philo Judaes), que viveu de 20 a.C a 50 d.C, no período do helenismo judaico. Filo não concordava nem com os estóicos, que consideravam a teologia como um ramo da medicina, nem com Aristoteles, que a considerava um ramo da filosofia. Afinizado com o pensamento platônico,  ele considerava a teologia como parte de um ramo mais elevado do conhecimento, estando relacionada com o culto a Deus e à regulamentação da vida humana de acordo com as leis divinas da Torá.
 
Interessado na filosofia do judaísmo como prática judaica, para Filo a teologia e as regras de conduta humana eram inseparáveis. Com seus estudos teológicos, ele cunhou o termo “teocracia”, mais tarde utilizada por Josefo, grande historiador hebreu, para descrever o trabalho de Moisés como legislador, que não teve por modelo nenhuma das formas de constituição política conhecida, agindo em todas as situações em consonância com o pensamento do Eterno. Na singularidade da religião judaica, teocracia significa de fato colocar toda a soberania nas mãos de Deus. A soberania do homem é dependente da soberania de Deus, ou seja, o homem deve ver cada ato que desempenha como a realização da vontade do Eterno. No governo da teocracia democrática de Filo, o Reino de Deus e valorização da vida, são conceitos indissociáveis. Para ele o judaísmo significava a soberania de Deus conforme revelada na Torá, a constituição Divina recebida por Moisés, que tem por objetivo a extensão da justiça e do conhecimento para todos os homens.
 
O cristianismo, tendo à frente o catolicismo, também apresentou uma teologia desenvolvida a partir de soberania de Deus na vida dos homens. Entretanto as doutrinas desenvolvidas nas igrejas, não tendo como fundamento o maior mandamento de Deus anunciado por Moisés e depois pelo próprio Messias, trouxeram grandes dificuldades para que haja aplicação da soberania de Deus na vida pratica dos cristãos. Mesmo as igrejas reformadas, envolvidas pelo espirito do pentecostalismo, trilharam um caminho próprio, destituído de racionalidade e entendimento.
 
A teologia desenvolvida pelo gigantesco trabalho do apóstolo Paulo, anunciando a Boa Nova a judeus e gentios, às ovelhas perdida da Casa de Israel, é quase desconhecida nas igrejas, em suas aplicações à vida cotidiana dos crentes. É sustentada nos mesmos fundamentos desenvolvidos por Filo e por muitos sábios rabínicos, posto que ele mesmo, Paulo, era um deles. Há profunda cisão entre a teologia do apóstolo e a doutrina anunciada nas igrejas cristãs.
 
O próprio Senhor Jesus ensinava estimulando o raciocínio e a reflexão. Confrontado pelos seus inimigos Ele sempre afirmava que todas as obras vinham do Eterno Deus. Ensinando os discípulos, que manifestavam sua incredulidade diante de tanto Poder, dizia: “As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai que está em mim é quem faz as obras”.
Entre os cristãos, embora se anuncie que Deus está no comando de tudo, a vida se resume entre o nascer e o morrer, a injustiça é vista com naturalidade, as suas causas são julgadas pelo poder do mundo, as suas famílias são desfeitas e refeitas ao sabor das paixões e necessidades, o tempo é gasto no consumo dos bens e na exposição desnecessária nas redes sociais. O Eterno que fez o mundo e tudo o que nele há, permanece dentro das igrejas e nos livros da teologia, sem entrar nas casas e nos corações.
 
Não se pode negar que há um longo caminho a ser trilhado pelo Povo de Deus para alcançar a almejada liberdade. A começar pelo esforço a ser empreendido na compreensão de que a história das Escrituras diz respeito a um único povo, que tem um único Deus. Nem judeus, nem cristãos, mas um Povo separado para grandes responsabilidades, tendo seu Deus como governo. A teocracia não é um sistema de governo humano, mas o sistema que vai governar o  mundo futuro, ao qual os homens se submeterão em todos os segmentos da vida.
 
A ordem de Deus anunciada por Moisés ao Povo Santo e confirmada pelo Messias, é inquestionável: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Não há outro Deus no controle de todas as coisas. O Eterno Deus é único e soberano sobre tudo. Portanto, continua Jesus: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças”.  O amor a Deus importa reconhecer o seu governo em tudo, bem como o caráter sagrado do indivíduo, o corolário da Criação.
 
Passados cerca de dois mil anos do tempo de Filo de Alexandria, considerado o Platão do judaísmo, diante da progressividade do tempo e das revelações de Deus aos homens, os ideais desse sábio soam coerentes com a ordem e a promessa de Deus para Israel. Nas bases de sua teologia está a soberana vontade de Deus como causa de tudo, hoje com seus objetivos bem mais esclarecidos pela ciência e pelas novas revelações do Eterno. Enquanto a teocracia não for uma realidade, não haverá paz no mundo. Que o Eterno guie seu Povo aos caminhos da iluminação. Amém!