No capítulo 24 do livro II Samuel, que conta a vida de Davi, há o relato de uma estranha situação, referente a um castigo enviado por Deus ao povo. Após um ato tresloucado do rei, Deus envia um aviso pelo profeta Gade: “Vai e dize a Davi: Assim diz o Senhor: Três coisas te ofereço; escolhe uma delas, para que te faça. Foi, pois, Gade a Davi e fez-lho saber; e disse-lhe: Queres que sete anos de fome te venham à tua terra; ou que por três meses fujas de teus inimigos, e eles te persigam; ou que por três dias haja peste na terra? Delibera agora, e vê que resposta hei de dar ao que me enviou. Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém, caiamos nas mãos do Senhor, porque muitas são as suas misericórdias; mas nas mãos dos homens não caia eu”. A narrativa segue, dizendo que Deus enviou a peste de Dã até Berseba, ou seja, a todo o Israel, morrendo setenta mil homens do povo, no tempo determinado.

A humanidade sofreu com várias situações de peste, ao longo de sua história. Entretanto, nenhuma delas ocorreu tendo os avanços da ciência e poderio econômico de hoje. O país está no fim da quarta semana de isolamento social, sofrendo as graves consequências de mais uma epidemia, em pleno século XXI, onde, em tese, se teria boas condições de enfrentamento, dado os avanços nos vários campos do conhecimento. Entretanto, a grosso modo, as características do fenômeno se mantêm: as pessoas morrem em grande número, todos se desesperam, surgem muitas terapias, muitos sábios, muitos oportunistas, e nenhuma solução.

Sem dúvida, o mundo está novamente assolado por uma peste. Desta vez, acomete quase todo o planeta, deixando um rastro terrível de morte, insegurança e medo. Cada vez mais fica claro que os homens não detêm o controle dos eventos que vêm sobre o mundo, nem sobre seus destinos. Nenhum poder politico ou financeiro está sendo capaz de compreender e resolver a situação. Poderosas nações são expostas em suas vilezas, humilhadas pela epidemia. Os homens, com sua ciência, egoísmo e vaidades estão perplexos. Como um vento que soprou, não se sabendo sua gênese, a epidemia surgiu de repente com força de um vento tempestuoso, forçando todas as pessoas a buscarem abrigo. E muito mais do que isso, encaminhando todos para profundas reflexões sobre a utilidade de suas vidas, poder e riquezas, até aqui.

Todos precisaram abrigar-se. É necessário pensar! Aonde buscaremos abrigo? Estamos em nossas casas livres da tempestade? Quais são os equipamentos de proteção do povo que se considera escolhido por Deus, por estar dentro de igrejas? Estamos bem certos de que lavagem de mãos, máscaras e isolamento social nos deixarão livres da praga? Ou que, se adoecermos, temos recursos para prover nossa cura? Certamente todas essas providências devem ser observadas, e devemos utilizar de todos os recursos que dispomos. Porém, se somente nestas coisas estão nossa segurança, somos piores que os incrédulos.

O povo a quem Moisés falou e que foi resgatado por Jesus, está no mundo, vivendo suas experiências, envolvido na ilusão de suas certezas. Está sendo obrigado a reconhecer que vivia como todos vivem, apoiados no poder do mundo, com suas facilidades. Não sabem viver sem os empregados que os servem. Para muitos, é grande sacrifício ter de fazer as tarefas domésticas, porque nunca se dedicaram a elas. O que estava estabelecido nas casas do povo que se considera cristão é que havia outro espírito comandando as ações, influenciando poderosamente suas mentes. E não era o Espírito de Deus! E o mais grave ainda é que o povo foi alertado desde o princípio que tal situação aconteceria, se deixassem de andar nos caminhos do Eterno.

Voltemos a refletir: onde buscaremos abrigo? No tempo de Davi foram três dias de praga, que dizimou parte do povo. O rei optou por cair nas mãos de Deus e não dos homens, por pior que lhe parecesse a situação. Não confiou nele, como homem experimentado nas guerras e com muitos recursos para escapar da fome, mas se entregou a Deus, confiando unicamente nas muitas misericórdias do Eterno. Evidentemente para que se faça essa opção deve-se ter comunhão com o Espírito de Deus. Como confiar no que não se conhece?

Portanto, o que está posto agora, para todos os que se consideram de Deus é uma grande oportunidade de despertar das consciências, libertando as mentes de um jugo que se fortaleceu perigosamente nos últimos tempos, levando muitos aos caminhos da morte, apartados de Deus. Esse espírito é muito mais letal e muito mais poderoso do que qualquer pandemia. É dessa morte que o Senhor quer nos livrar, antes da chegada do Reino.

No relato da história, quando o anjo estendeu a mão sobre Jerusalém, aonde se encontrava Davi, o Senhor ordenou que suspendesse a praga, dizendo: “Basta, agora retira a tua mão”. E fez assim pelo amor que tinha a Davi, seu servo, que havia decidido cair nas mãos da misericórdia do Eterno Deus. Bendito seja! Que seja assim com cada um de nós!