E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Esta advertência de Jesus, há mais de dois mil anos, é tão atual quanto oportuna. Parece até que o Senhor estava falando para o homem moderno, e, de fato falou, porque o Espírito sopra em todo lugar, e em qualquer época, advertindo, exortando, admoestando e repreendendo seus servos, haja vista que repreende e açoita a quem ama. O distanciamento de Deus, ou de seus caminhos, ao longo do tempo, foi transformando o coração do homem moderno, tomando-o por inteiro pelo trabalho, pelo dinheiro e prazeres mundanos. Com isso, sobressaiu-se o homem carnal, imperfeito e impuro.
 
Em decorrência, o espírito do Senhor se distanciou e deixou o homem governar-se pelos próprios pensamentos e desejos, os quais não são bons aos olhos de Deus. Embora vivo fisicamente, está morto espiritualmente e não sabe. Consequentemente, vê-se multiplicar por toda parte a impiedade, a indiferença, o egoísmo e o individualismo exacerbado, cujos frutos são amargos como fel. A sociedade, então, geme, uiva e chora, todavia, é incapaz de renunciar a sua escolha e de admitir que errou. Prefere justificar-se blasfemando contra Deus.
 
O fruto amargo começa a brotar, razão pela qual a colheita é inevitável. Por isso, cada vez mais, existe descontrole, cada vez mais cresce a angústia, a aflição, a depressão, e, a loucura se apodera de muitos. Ninguém busca a causa, porque ignoram a palavra do Senhor. O mal é uma doença que cada vez mais se alastra, contamina e envolve o homem moderno. Existe no ar uma atmosfera favorável, para que a iniqüidade se alastre, mas, embora o homem comum o perceba, não consegue ouvir a voz do pastor chamando as ovelhas.
 
Nunca se viu tamanho sofrimento embaixo dos céus. Nunca se viu tantas atrocidades, tanto desamor, tanta indiferença, contendas, rixa e litigiosidade. O homem está cego, surdo e cheio de vaidade, pois melindra-se com uma palavra, um gesto ou uma repreensão qualquer. Ninguém se submete a coisa alguma, nem obedece ou se aconselha com o Senhor. O coração permanece duro, inflexível e petrificado. Segue o homem na sua soberba, achando-se dono de si mesmo. É uma mula que nem com freio se pode parar.
 
Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei porque as vossas mãos estão cheias de iniquidades. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos corações de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem, compartilhai as vossas misérias; procurai o que é justo diante de mim, diz o Senhor em Isaías, cap. 1, vers. 15 a 17.
 
Mas nem tudo está perdido. Apesar da atmosfera extremamente desfavorável, o Senhor disse que o amor de muitos se esfriaria, mas não de todos. Existe um pequeno rebanho que persevera no amor, na oração, no partir do pão, no perdão e nas muitas misericórdias. Segue, rumo ao alvo, esperando e vivendo na esperança da salvação. Sabe que não é deste mundo. Embora viva nele com contenções, privações e subjugação dos instintos, não se contamina com a sua idolatria, nem se senta na mesa dos escarnecedores.
 
Senhor, desperta, desperta o Teu Povo que está cego, surdo e mudo. Dá-nos vistas, abre nossos ouvidos e chicoteia nossas almas sonolentas, porquanto queremos continuar perseverando e crendo no Teu Evangelho e na Tua tão grande salvação, apesar da iniquidade se alastrar ao derredor. Ensina-nos a vigiar e orar. Amém.