A palavra MORTE nas Escrituras Sagradas é entendida como o simples fim da vida orgânica. Em muitos casos é esse mesmo o sentido, mas em outros, absolutamente, não. Admitindo que os textos bíblicos referiam-se apenas à morte física, alguns teólogos criaram estranhas teorias a respeito da natureza da alma, chegando mesmo a confundi-la com o corpo físico. Desse pensamento surgiu a “ressurreição da carne”, um dogma católico do qual a igreja evangélica não conseguiu se livrar. Esse dogma diz que, depois do Juízo, os que forem salvos por Cristo, receberão de volta o velho corpo que deixaram na sepultura. No seu infinito poder, o Criador ajuntaria a multidão de pedaços cadavéricos espalhados no pó da terra, para constituir corpos, glorifica-los e devolvê-los aos escolhidos. Parece história de jardim da infância, mas boa parte dos católicos e evangélicos acredita nessa possibilidade. Os mais simples costumam dizer que Deus pode tudo. E pode mesmo, afinal Ele é Deus. Porém, é pouco provável que Deus se torne o absurdo por causa da fé simplória de alguns irmãos. Deus é muito mais.
Ao tratar da situação da alma depois da morte do corpo físico, o apóstolo Paulo ensinou que ela é envolvida por um corpo de natureza etérea, com o qual tem sua individualidade no além. Entenda-se por “além” o “Sheol”, palavra hebraica que aponta para o universo invisível, onde estão os anjos, arcanjos, serafins, espíritos e o próprio Deus. Todos, crentes ou não, um dia terão de entrar nesse lugar. E o farão de posse de seus corpos espirituais, uma vez que o corpo físico voltará ao pó. A passagem da morte para a vida é o que se chama “ressurreição”. Paulo não diz que no Juízo, os corpos vão deixar suas sepulturas, mas que o corpo espiritual será transformado. Ao admitir tal princípio, comprovado pelas Escrituras, entendemos que a verdadeira ressurreição é a vida da alma, depois da morte do corpo. “Se esperamos em Cristo somente nessa vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” dizia o Apóstolo.
O mesmo Paulo, ao tratar da assistência às viúvas, pediu a Timóteo que tivesse cuidado em não incluir no programa, as viúvas jovens. Isso porque, segundo o Apóstolo, elas tinham o hábito de viver em deleites, quer dizer, gostavam de se divertir na sua viuvez. Paulo afirmou que embora essas viúvas parecessem vivas, elas estavam em verdade MORTAS. Ora, como pode uma viúva estar VIVA e MORTA ao mesmo tempo? Passagens bíblicas deixam claro que a palavra MORTE tem dois sentidos: um para designar a morte do corpo carnal e outro para apontar pessoas que estão destituídas da Graça salvadora de Cristo. Ou temos a Cristo e estamos vivos, ou não temos o Cristo e estamos mortos. É simples assim.
Olhando por este ponto de vista enriquecemos a nossa teologia e podemos perceber certas verdades escondidas no texto bíblico. Por exemplo: quando Jesus disse que alguns discípulos não veriam a morte, antes que viesse o Reino, não falava da morte física, mas da morte espiritual. De posse da Graça salvadora de Cristo, a morte não teria mais poder de atormentá-los, nem na vida temporal, nem depois dela. É isso o que se deseja para as ovelhas do Senhor, que a morte nunca mais possa atormentá-las. Aliás, é o que se deseja para todos os homens. E essa “vida” e poder sobre a morte, somente podem ser dados por Cristo.
Pensemos agora, em alguém que desconheça Cristo, mas que é uma pessoa de bem. Por uma causa qualquer, ela vem a falecer. Qual seria o destino da sua alma depois da morte física? Destituída da Graça salvadora de Cristo, conclui-se que não irá para o céu. Para o inferno seria injusto, uma vez que não cometeu pecados para a condenação. Como se pode resolver a questão? Alguns teólogos criaram a ideia do “limbo”, onde a alma “morta” ficaria em estado de suspensão até o Juízo. Nele, estariam também almas de crianças com morte prematura, os dementes, os selvagens etc. O problema do “limbo” é que não há base bíblica para sustentar sua existência, a não ser uma ou outra passagem de interpretação radical. Assim, convém tirar o “limbo” da nossa teologia.
No Salmo 23, versículo 4, a Palavra de Deus relata a existência do vale da sombra: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.” Teólogos tradicionais disseram se tratar de uma espécie de “lixão” que havia na região. Mas parece que isso foi para não admitir que Davi referia-se a algum lugar do Sheol. A teologia católica, tomando como base Macabeus (um livro não aceito pela teologia evangélica), admite um lugar purgatorial. Após certo tempo de sofrimento, a alma “morta” poderia deixá-lo e adentrar o primeiro céu. Cartas apostólicas indicam que Cristo, logo que deixou o mundo, teria ido pregar o Evangelho aos “mortos”. Tudo indica que a “morte” ou “vale da sombra” é mesmo um lugar de purgação das almas. Isso resolveria a questão das almas “mortas”. Mas, em teologia, uma questão leva a outras. Por exemplo: Não seria injusto, uma alma “morta” ocupar o mesmo lugar nos céus, de outra que aceitou a Graça salvadora de Cristo? Uma vez que existe mais de um céu, essas almas ficariam num mesmo local no invisível? A alma continuaria aprendendo nas regiões celestiais? Ela perderia sua capacidade de pensar, suas lembranças etc.? Isso é teologia, questões intrigantes, para as quais se busca respostas. A teologia é a maravilhosa ciência de especular, de pensar, de buscar entender. E isso não é pecado. Jesus Cristo disse para bater na porta e procurar.
Você que é Povo de Deus, deve estar surpreso com alguns conceitos abordados. Se disserem para você que é coisa do diabo, não acredite. Querem te assustar para manterem o jugo. Os temas que tratamos no portal Meu Povo, não são novidades. Estão fartamente apoiados nas Sagradas Escrituras. Tenha coragem e enriqueça sua teologia pessoal. A teologia evangélica não aceita que os mortos estão vivos, nem que se possa de alguma maneira interceder por eles. Claro, nem poderia admitir tal coisa, pois se o fizesse, seria obrigada a assumir, por exemplo, que levou uma multidão de crentes a andar no escuro durante séculos. Mas, se pelo menos aceitar que existem VIVOS MORTOS, já será um progresso considerável. Shalom!
“Ora, a que é verdadeiramente viúva e desamparada espera em Deus, e persevera de noite e de dia em rogos e orações; mas a que vive em deleites, vivendo está morta.” – (1 Timóteo 5.5,6)